Doença do trabalho é pesadelo dos bancários
Enquanto gastos da Previdência
Social aumentam com concessão de auxílio- doença, trabalhadores chegam
ao limite diante da pressão por metas e assédio moral
São Paulo - Em 2011, em uma agência em São Paulo, um bancário pensa em
pular de um dos andares do prédio. Há anos ele se sentia humilhado,
desvalorizado e sofria assédio moral no trabalho. Mesmo assim, segundos
antes de desistir da vida, ele pensa na família. Num impulso, volta o
corpo para dentro e desiste do suicídio.
O caso choca, porém, situações extremas como essa já foram vividas por
muitos bancários e exemplifica o limite do ser humano diante da pressão e
humilhação constantes. “Esse tipo de prática caminha junto à cobrança
abusiva por metas e são do conhecimento da direção das instituições
financeiras. O assédio moral faz muitas vítimas e também gera um
prejuízo grande para a Previdência Social”, ressalta a secretária de
Saúde do Sindicato, Marta Soares.
Os gastos com concessão de auxílios-doença passaram de R$ 1,51 bilhão
em 2008 para R$ 2,11 bilhões em 2011. Os dados da Previdência Social
apontam crescimento médio anual de 12% - no acumulado de 2012, até
novembro, o valor pago chegou a R$ 2,02 bilhões.
O bancário que decidiu pela vida é um dos que recebe o benefício.
Afastado há um ano e em tratamento, ele vive hoje com cerca de 40% menos
e tem custos com remédios que chegam a R$ 300. “Fiquei sem receber o
salário durante quase dois meses e também sem o benefício, o que
acarretou uma série de complicações, como atraso de pagamento de
prestações. Precisei fazer um empréstimo”, conta.
Para o advogado especializado em saúde do trabalhador Antônio Rebouças a
Previdência Social deveria atuar, com efetividade, na prevenção das
doenças relacionadas ao trabalho, adotando políticas amplas que
contemplem desde a educação até a fiscalização das empresas. “Deveriam
ser incrementadas ações regressivas, hoje propostas de forma
relativamente inexpressiva, cobrando das empresas faltosas os gastos com
benefícios. Outra providência é que as empresas fossem responsáveis
pelos cuidados da reabilitação profissional para valer, o que hoje não
ocorre. Há um dano social enorme que não vem merecendo a devida
atenção.”
Menos metas, mais saúde - Marta Soares alerta: “É
necessário mudar o modelo de gestão dos bancos, pois a categoria está
entre as que mais sofrem com doenças mentais associadas ao trabalho”.
Segundo o relatório da Previdência, os auxílios-doença, previdenciários
e acidentários, concedidos a trabalhadores por causa de depressão ou
transtornos depressivos recorrentes aumentaram, em média, 5% nos últimos
cinco anos, superando 82 mil ocorrências anuais. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a jornada semanal média dos
trabalhadores brasileiros não aumentou ao longo dos últimos quatro
anos, mantendo-se em 39,9 horas semanais. No entanto, o estresse é bem
maior.
“O Sindicato percebe esse problema há muito tempo, e existe uma luta
ininterrupta para mudar a realidade nos bancos. Conquistamos nos últimos
anos o instrumento de combate ao assédio moral, o fim da divulgação de
rankings individuais e, na última campanha, a manutenção da remuneração
para trabalhadores que aguardam a perícia do INSS”, destaca Marta.
Gisele Coutinho - 16/1/2013
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